{English below}


[PT]
As Práticas de Re-mediação, de Fernanda Eugenio, Manoela Rangel e Pat Bergantin, constituem-se enquanto campo de investigação sensível de vias de (re)conexão entre práticas artístico-somáticas, uma espiritualidade politizada e uma política espiritualizada. Desde que se instalou a pandemia, em março de 2020, ativamos encontros regulares online, nos quais nos propusemos a nos acompanhar 'movendo forças', partindo dos recursos e ferramentas que compõem os jogos com o corpo-território do Modo Operativo AND, em especial as práticas de (auto)etnografia sensorial, o ANDbodiment e os Jogos de Comparência.
Enquanto gesto político de reconectar o que o pensamento dual inscreveu como separado, as Práticas de Re-mediação fazem-se práticas de en/incorporação da des-cisão, (a)firmando a ligação com outros campos e integrando os planos que o pensamento moderno cristalizou como 'natural' e 'sobrenatural'. Isto será o mesmo que lembrar sensivelmente que tudo que está fora está dentro, e vice-versa, num exercício de des-identificação radical e de transicionalidade do Eu.
Foi com este desejo de re-conhecer (conhecer de novo) o que (não) sabemos - este plano em que espiritualidade, natureza e ancestralidade formam um todo indiviso -, que ancoramos a nossa pesquisa na dupla valência da operação da re-mediação: re-mediar é voltar a juntar o que estava desligado e é, também, curar, dar jeito e/ou remédio. Esse duplo sentido comparece quando damos passagem a três desdobramentos contemporâneos ao acontecimento: o corpo que é atravessado (forma-imediata), o corpo que atravessa (força-afeto), e o corpo travessia (forma-força-canal). Em estado de travessia-atravessamento-atravessade, os eventuais pontos que pareciam estar desconectados podem se re-ligar e a cura da re-mediação, até então, tem se manifestado em também três modulações: a cura através do corte, a cura através do antídoto, e a cura através da dádiva.
Pesquisando, nos nossos corpos-territórios, o espectro das frequências vibracionais que nos atravessa e constitui, fomos interrogando através da vivência a possibilidade de sintonizarmos com a multidimensionalidade co-participativa da Vida, de dar passagem à sua manifestação, e de estarmos lá para ela, com uma capacidade ativa de senti-la, honrá-la e reconhecê-la.
Passado mais de um ano de pesquisa íntima e despretensiosa dessas questões, abrimos espaço no programa stANDing 2021 da Escola do Reparar para compartilhar os três meios que percorrem as Práticas de Re-mediação: meios de liberação - localizando e desbloqueando chaves de acesso para construir o corpo de travessia; meios de canalização - exercitando-se enquanto canal transpessoal e constituindo campo para a aparição da questão a ser curada; e meios de serviço - desobstruindo curas possíveis e disponibilizando caminhos para gestos de reparação que, através da concretização no ínfimo, possam, quem sabe, aos poucos reverberar mais vastamente.
Serão duas apresentações públicas deste processo ininterrupto de pesquisa, ambas online, ambas no dia 10 de julho.



[EN]
The Re-mediation Practices, by Fernanda Eugenio, Manoela Rangel and Pat Bergantin, constitute themselves as a sensitive investigation field of ways of (re)connection between artistic-somatic practices, a politicized spirituality and a spiritualized politics. Since the pandemic began in March 2020, they have activated regular online meetings, in which they set out to accompany each other by 'moving forces', based on the resources and tools of Modus Operandi AND’s Body-Territory Games, in particular the practices of sensory (auto)ethnography, ANDbodiment and Compearance Games.
As a political gesture of reconnecting what dual thinking inscribed as separate, the Re-mediation Practices become practices of embodiment/incorporation of de-scission, (a)firming the connection with other fields and integrating the planes that modern thought crystallized as 'natural' and 'supernatural' - movement that serves as a felt reminder that everything outside is within, and vice versa, in an exercise of radical dis-identification and transitionality of the Self.
It was with this desire to realize and recognize as a process of knowing (again) what we (do not) know - this plane in which spirituality, nature and ancestry form an indivisible whole -, that we anchored our research in the double valence of the re-mediation operation: to re-mediate is to reassemble what was disconnected and it is also to cure and heal. This double meaning appears when we give way to a triple contemporary unfolding of the event: the body that is trespassed/crossed (immediate form), the body that trespasses/crosses (force-affection), and the trespassing/crossing body (form-force-channel). In a state of trespassing-trespassed-trespasser, or crossing-crossed-crosser, the eventual points that seemed to be disconnected can reconnect and the healing of re-mediation, until now, has manifested itself in also three modulations: healing through cutting, healing through the antidote, and healing through the gift.
Researching, in our bodies-territories, the spectrum of vibrational frequencies that crosses and constitutes us, we have been interrogating through experience the possibility of attuning to the co-participative multidimensionality of Life, of giving way to its manifestation, and of being there for it, with an active capacity to feel it, honor it and recognize it.
After more than a year of intimate and unpretentious research on these issues, we made room in the 2021 stANDing program of School of Reparar to share the three means that go through the Re-mediation Practices: means of liberation - locating and unlocking access keys to build the trespasser-crosser body; channeling means - exercising oneself as a transpersonal channel and constituting a field for the manifestation of the issue to be cur(at)ed; and means of service - unblocking possible cures and providing paths for gestures of reparation that, through the implementation in the smallest, may, perhaps, gradually reverberate more widely.
There will be two public presentations of this uninterrupted research process, both online.