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Escola do Reparar 2022
Edição #3 Amparo e Encanto: Re-membração e Descontinuação do Irreparável
Estamos cansades e confuses. Um pacto com o desamparo, tão involuntário quanto inescapável, tem drenado as nossas capacidades de co-sentir - de habitar plenamente a inter e a intraconectividade enquanto rede inesgotável de cuidado e sustento recíprocos.
Estamos ofuscades e tristes. Navegando na faixa de frequência do desencanto, entoamos a falta num peito-buraco-sem-fundo. Vamos seguindo, atordoades demais para reconhecer e honrar o que já temos e o que não paramos de receber. Atordoades demais, também, para sonhar retribuições, superações vitais e invenções revitalizantes.
Nesta terceira edição da Escola do Reparar, a proposta é pesquisar, na carne e com as forças que nela circulam, vias para voltar a acessar a sensibilidade do amparo e do encanto - duas modulações da experiência sensível da inseparabilidade que, apostamos, vibram a potência de outras cura(doria)s de vida, afinadas com um comum mais-que-humano, infinitesimal e cósmico.
O amparo vibra enquanto re-pouso: é e acontece lá onde voltamos a chegar onde já estamos, aterramos. E, porque acessamos o estado de pouso, também des-cansamos, repousamos. É aquela faixa de frequência na qual experimentamos sustento e dádiva - o amparo do Fundo Comum da Vida, no qual co-participamos enquanto partícula feita e fazedora de outras partículas. Somos, ao mesmo tempo, parte e inteires. Sentimos a vida enquanto atravessamento incontornável e ilimitado, na sua abundância de manifestações infra e transpessoais, se estendendo para além e para aquém de nós.
Amparo é, assim, aprender a receber.
O encanto, por sua vez, vibra enquanto re-voo. Brilha lá onde descolamos dos mecanismos da identificação e do entendimento, e, por isso, também decolamos. Deixamos de nos confundir, experimentamos, nem que seja de relance, re-fundir: voltar a sintonizar com a faixa de frequência na qual sabemos-nos amálgama, sabemos-nos cúmplices do mistério e o podemos sustentar sem pressa nem desejos de desvendamento ou pacificação. A faixa de frequência na qual nos apropriamos plenamente das consequências de ser parte-tode: de estarmos visceralmente implicades, em tudo o que há e em tudo o que se dá.
Encanto é, assim, aprender a retribuir.
Dando continuidade à pesquisa da re-membração enquanto gesto de despactuação com o Irreparável, a Escola do Reparar 2022 convida a uma jornada experiencial e experimental pelas diferentes modulações sentidas do Irreparável - seja enquanto dano e saque estrutural, que é preciso inaceitar radicalmente, descontinuar; seja enquanto dimensão não apreensível, desconhecida e desconhecível, que comparece junto a cada acontecimento, e que porta ares e moléculas de outros mundos possíveis. Porta antídotos.
A fim de pesquisar modos para reencontrar as experiências encarnadas e sentidas do amparo e do encanto, propomos percorrer demoradamente três fases do processo de re-membração: a manifestação, o acesso e o re-conhecimento. E aprender as suas três táticas de reparação: a involução, a (des)integração e a renunciação.
Percorrendo esse caminho, vamos operando a re-membração, tanto enquanto rememoração - reagregação no presente de espaços-tempos ancestrais e futuros-, quanto enquanto remembramento - um voltar a unir o que a cisão (pós)moderna insiste em separar, fragmentar e desligar - e, assim, também alienar e anestesiar.
Propomos um programa continuado, que se desenrolará ao longo de todo o ano para, juntes, (des)dobrarmos estas questões, acreditando que sintonizar com a inseparabilidade ao nível do Soma e da Terra é imprescindível para dar corpo de sustentação a um posicionamento político consistente de descontinuação das lógicas de dívida e dúvida que, consecutivamente, vêm corrompendo a nossa relação com a dádiva e reiterando as lógicas usurpatórias de um Irreparável hegemónico e estrutural.
Entre abril e dezembro, entre Portugal e Brasil, entre os formatos presencial e online, a Escola do Reparar 2022 percorrerá quatro programas.
Começaremos pelo hANDling, um programa dedicado a oferecer e a manusear - a (re)incorporar através do uso contínuo - as ferramentas de que dispomos no AND Lab: o Modo Operativo AND e as práticas corporais e de cuidado do Coletivo AND (abril a julho).
A seguir, no programa stANDing, partilharemos as novas ferramentas que andam a surgir no plano das nossas investigações-criações em processo, em workshops dedicados às três diretrizes do AND Lab: o AND Soma, o AND Terra e o AND Cuidado (setembro).
Então, já suficientemente pré-parades, entraremos mais frontalmente na questão-tema do ano, em dois programas: nos Estudos Indóceis (outubro) faremos uma aproximação, em modo grupo de estudos, às ferramentas-conceito da re-membração, do amparo e do encanto;
e no LANDscape (novembro), mergulharemos num curso-retiro intensivo inteiramente dedicado a (des)dobrá-las de modo vivencial e em contato direto com a terra - no território-corpo e no corpo-território.
A Escola do Reparar 2022 também trará, em paralelo, a possibilidade do público entrar em contato com o Modo Operativo AND através da websérie em três episódios Manual de Sobrevivência para Tempos Irreparáveis, que será lançada em abril, juntamente com o nosso encontro público de abertura.
Finalizaremos o ano com um encontro de balanço aberto a todes, no início de dezembro.
Fernanda Eugenio
Lisboa, março de 2022


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