Metálogo #5
Sat, 11 Nov
|Curitiba (+ informações em breve)
Performance de Fernanda Eugenio em colaboração com Ana Dinger. Festival Amostra Urbana
General Info
11 Nov 2017, 00:00
Curitiba (+ informações em breve), Curitiba, PR, Brasil
Details
A topografia das inquietações como viver juntos? e como não ter uma idéia?, que movem todo o projeto do AND_Lab, emerge do encontro entre dois modos de “fazer problema”, vindos da antropologia e da dança – ou, mais precisamente, das relações-tensão com cada um desses campos O ponto de encontro entre a antropologia e a dança é a singular sensibilidade à relação que partilham de modo fundador, e que lhes confere uma espécie de “impossibilidade congênita” de pacificarem de modo definitivo a questão do encontro, do entorno e da alteridade. Por um lado – e por operarem de modo “fundador” na impureza relacional, a antropologia e a dança são dois campos de saber-fazer que nunca se encaixaram por completo no projeto ocidental mais amplo de produção de certezas. Por outro lado, ao longo das suas fases modernas e pós-modernas, ambos os campos tenderam a organizar este “lugar deslocado” como voz de resistência, deixando diversas vezes escapar a precisão com que poderiam inventar-se enquanto um potente “Fora”, capaz de operar, para além de um continuado loop no continuum resistência-desistência, como plano de re-existência.A topografia das inquietações como viver juntos? e como não ter uma idéia?, que movem todo o projeto do AND_Lab, emerge do encontro entre dois modos de “fazer problema”, vindos da antropologia e da dança – ou, mais precisamente, das relações-tensão com cada um desses campos O ponto de encontro entre a antropologia e a dança é a singular sensibilidade à relação que partilham de modo fundador, e que lhes confere uma espécie de “impossibilidade congênita” de pacificarem de modo definitivo a questão do encontro, do entorno e da alteridade. Por um lado – e por operarem de modo “fundador” na impureza relacional, a antropologia e a dança são dois campos de saber-fazer que nunca se encaixaram por completo no projeto ocidental mais amplo de produção de certezas. Por outro lado, ao longo das suas fases modernas e pós-modernas, ambos os campos tenderam a organizar este “lugar deslocado” como voz de resistência, deixando diversas vezes escapar a precisão com que poderiam inventar-se enquanto um potente “Fora”, capaz de operar, para além de um continuado loop no continuum resistência-desistência, como plano de re-existência.
Esta percepção espalha-se hoje de um modo cada vez mais agudo, e vêm-se desdobrando em consequência da crítica – cada vez mais onipresente – do privilégio da ontologia e da representação na partilha moderna do sensível. Tal primado funcionou, no pensamento antropológico, como argumento tanto das abordagens universalistas como das abordagens relativistas e interpretativas; e, na dança, sustentou tanto as estéticas modernas (o ballet clássico e a dança moderna) como as danças pós-modernas (o contato-improvisação ou as coreografias de autor). Tanto a antropologia como a dança habitam atualmente uma clara exaustão em seguir funcionando como lugares de mera resistência à cinética moderna da conquista da verdade. Este limite tem levado os dois campos, por caminhos variados mais sutilmente afinados, a interrogar-se sobre a suficiência das práticas modernas e pós-modernas em efetivar a colaboração criativa e a convivência. E é este potente estado de “duvidação” das próprias práticas que faz, da antropologia e da dança contemporâneas, perspectivas privilegiadas para pensar e operacionalizar ferramentas conceptuais e práticas mais precisas para visibilizar uma “ética do comum”, investigar formas de criatividade já não assentes na identidade radical do autor ou do artista, e lidar francamente com a questão do “viver juntos” – inquietações que vêm afetando tanto o plano teórico, metodológico e analítico das ciências sociais como a reflexão e a operacionalização da criação artística.