Pergunta recorrente: a que sensibilidades estamos sintonizades e/ou anestesiades? Para sintonizar com a pulsão vital do fundo comum da vida é preciso também aprender a não rejeitar a dor: a coletivizar o coração para que ele se abra sem se rasgar.
Neste excerto de video, Juma Xipaia responde a Eliane Brum sobre a sensação de ser floresta e de sentir em si a morte do rio:
Como des-imunizar-se para a sintonização radical com o não-humano? Intuição de usar a terra como matéria. O composto, para virar terra - des-cindir - é preciso (não) morrer. Em sintonia com a questão colocada pelo MO_AND: como matar (o sistema em nós) sem morrer?

A vida des-ilusionada é uma vida enquanto preparação para morte. Diferentes modulações do gesto de des-ilusão e des-cisão que é meditar sobre/com a morte:


Meditar sobre a própria morte: treino da aceitação radical da finitude. Meditar com a morte: a contemplação do cadáver como antídoto para as ilusões mundanas.

Mas... como morrer sem morrer inteire? Como matar o sistema em nós sem morrer?
Testemunhando a morte das ilusões que parecem nos sustentar em vida.
Intuição do material 'vela', para sustentar o campo desse testemunho.
Carlos Garaicoa, Ahora juguemos a desaparecer (2002)

Tátraka - técnica yogui de fixação ocular: manter olhar fixo em um objeto que pode ser externo, interno ou contemplativo durante a meditação.
Olhos abertos / com vela: visão periférica desaparece gradualmente, até que não tenha consciência visual de nada além da chama da vela: desaparece distância entre eu e chama, se tornando um só.
Isso acontece porque a razão pela qual você consegue ver é que seu cérebro processa os sinais enviados pelos nervos ópticos. Como olhos não estão se movendo, eles param de fornecer informação para o cérebro processar porque não há mais imagens novas para serem enviadas. Por isso visão periférica começa a desaparecer. Para alcançar essa experiência profunda, é necessário tanto a quietude física dos olhos quanto a quietude mental.
Assim que você mover seus olhos, seu cérebro já será novamente inundado por novas informações sensoriais e você voltará a ver tudo ao seu redor.

A fixação ocular como prática da des-ilusão do ponto de vista. Nestas imagens de ilusão de ótica, as imagens parecem estar em movimento por conta de inquietude ocular/mental. Se fixamos o olhar num só ponto, a ilusão desvanece e a imagem aquieta.


Tradição do Chi Kung, a analogia da vela:
O SHEN (espirito) é representado pela luz que irradia da vela ao queimar. O propósito da vela é o de iluminar a escuridão. O nosso SHEN é o brilho do nosso espírito. Ele é emanado quando há abundância de CHI e JIN.
O CHI (energia) é representado pela chama da vela. Pode chamuscar e esfumaçar ou pode queimar com luz harmônica. Nosso CHI é a nossa vitalidade e energia diária. Ele é a fonte da luz, mas eventualmente consome a vela. Quando o nosso CHI é usado com eficácia o nosso Jing dura mais tempo. O CHI é facilmente esgotado através das nossas atividades diárias, mas tb pode ser facilmente nutrido ao termos uma vida saudável, mantendo um bom sono, alimentação e respiração.
O JING (essência) é representado pela cera e pelo pavio da vela. A qualidade da cera e a reserva de cera dispoível para ser queimada determinam a vida da vela. O nosso JING, que é determinado por nossa herança genética e nossas reservas de energia profundas, determinam sua longevidade. O JING leva muito tempo para ser esgotado e é extremamente difícil de ser reabastecido.

Finalizamos o ciclo com uma inspiração do mesmo Lama Rod Owens que nos inspirou desde as Práticas de Des-imunização no livro Radical Dharma:

(todas as imagens foram retiradas da internet)